
A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Há vento que sopra de dentro para fora, de fora para dentro, mas a relva, oscilante, permanece enraizada. Não é fácil destruí-la, ela resiste à força com toda a sua extensão.
ResponderExcluirNem sempre olhamos para a relva, nem sempre acreditamos que ela está lá, mas ela existe por todos os lados independentemente de querermos, de cuidarmos.
Queria que sentisse isso, pois entenderá melhor. Não há partida, não há chegada, o que sempre existe, ainda agora, é uma travessia.
E, sim, eu ainda leio o que escreve e -- surpresa! -- comento também! =)
Beijos!!