quinta-feira, 26 de maio de 2011

Lições de uma vida.



Penso eu que a maior felicidade do mundo se esconde na história que temos com quem amamos.

Em momentos vividos – de alegria, tristeza, amor, trocas e até mesmo discussões.

É na família que encontramos nosso referencial, e lá que nos enxergamos como gente, como pessoas viventes e importantes no mundo.

Todos temos a nossa família, seja aquela de formato padrão, pai, mãe e irmãos, quer seja aquela moldada - vó, primos, amigos, cachorro, papagaio e periquito.

Poucas coisas me deixam tão emocionada quanto falar com meu pai ao telefone, de ver na simplicidade daquele ser humano uma história de vida e um sentimento pré-entendido.

Na vida ele muito pouco se expressou em palavras, mas seus olhos, seus gestos e as poucas palavras que dizia significaram muito para mim. Frases em momentos de discontração e puxões de orelha que eu lembro até hoje e ainda servem para ensinar a mim e outras pessoas.

“Conversa comigo que você não sofre”;

“Nunca tente dar uma de esperta, pois sempre aparece alguém mais esperto do que você”;


"Nunca se baseie nos maus ou nos que não conseguiram, sempre se espelhe nos melhores”;

“Não existe inferno, é aqui que pagamos por tudo aquilo que escolhemos fazer”;

“Quando as coisas estão muito ruins, eu me sinto aliviado, pois há grandes chances das coisas dali para frente melhorarem”.

E que quando a coisa estava feia dizia: "Vamos acudir o que está caindo".


Nesse momento não consigo me lembrar de muitas, o que para mim é uma pena, mas revejo muitas situações que ficaram registradas em minha alma, desse orgulho e admiração de alguém que me ensinou a identificar quais eram as espécies de todas as mudinhas de verduras que ele plantava na  horta.

Era ele que de domingo de manhã saía para andar no bairro observando em cada terreno baldio as mudas de tomate, pepino, melão e melância que brotavam.

Foi ele que me ensinou que as acerolas que caem no chão quando jogadas para as galinhas evitam mau cheiro, moscas, e ainda as alimenta.

Foi ele que me ensinou a olhar para trás toda vez que se faz alguma coisa para se certificar de que não deixamos nada fora do lugar.

E eu ainda estou certa, de que foi dele que eu herdei essa minha vontade de ficar deitada, pois nos finais de semana, depois de tirar o iogurte (que tinha hora para ser tomado) da geladeira deitava para ver a programação da TV logo cedinho, e que depois de bebê-lo ia à feira e passava o resto do dia lá, deitado.


E que quando saiu de casa o que mais me doeu foi pensar que não mais teríamos os domingos de ficarmos deitados o dia todo.


Mas não foi isso que aconteceu. O tempo revela tudo, e hoje depois do medo, consigo me lembrar de vários domingos que deitamos juntos no chão da sala para assistir à programação da TV.

É do meu pai muita coisa em mim, sobre tudo o amor e admiração que eu sinto por ele e, de ter aprendido tudo em uma casa que parecia um sítio, mas que representava bem mais que isso, era o nosso pequeno mundo.

Ao meu Thelinha* com amor.

*Ele em uma época chamava algumas pessoas de "Tilápa" Beiçuda, diminui e me acostumei a chamá-lo de Thela, mas o amor assim o definiu Thelinha.


Nem ao me despedir do que escrevo consigo deixar de lembrar dos pequenos momentos que trouxeram grandes lições, das pequenas e simples coisas que nortearam a minha vida e da paixão e interesse que eu sinto por cada planta.


E é em cada um desses detalhes que eu consigo vislumbrar no meu dia-a-dia que eu tiro seus ensinamentos.

E é com lágrimas nos olhos que reafirmo o que venho dizendo há um tempo: “O que importa é tão somente quem temos na vida”.

AE.26/05/2011-PAI

7 comentários:

  1. Que declaração linda e não estarei mentindo se disser que caiu uma lágrima solitária de meus olhos.
    Lindo ^^

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  2. Obrigado pela visita e pelo comentário. E esse seu texto me fez pensar muito em meu pai.

    Às vezes a gente nem se dá conta do quanto está aprendendo com alguém, mesmo que seja em silêncio, mesmo que seja só vivendo ao lado desse alguém.

    Um beijo grande.

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  3. Verdade, a cada dia que passa mais sinto que minha família é especial e apesar de ter perdido meu Pai algo dele me inspira, protege e insentiva

    bjxxx

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  4. que lindo, eu não tive tanto tempo com o meu...

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  5. lindo texto, ás vezes nossos pais são tão chatos com a gente, mas se voce para pra pensar, eles são as pessoas em que sempre vamos poder contar, até mais que amigos, mas nem sempre reconhecemos isso...

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  6. As vezes as pessoas acham que os pais não são seres humanos... Não sentem dor, medo, dúvidas... Nunca podem errar..... Essa é a imagem q temos e q criamos qd somos crianças.... Mas isso não pode continuar qd crescemos.... Gostei de ler o q vc escreveu... E q vc pegou as partes mais gostosas.... Nos apegamos muito nas coisas ruins.... E vc nos ensinou no meio de tudo isso a mudar esse vício....

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  7. Eu chorei. E não sei dizer nada, mais. É LINDO!

    :*

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